sexta-feira, 30 de junho de 2017

ANTÍGONA - SÓFOCLES



RESUMO DA OBRA

 

Antígona é a última parte da Trilogia Tebana de Sófocles, também composta por Édipo Rei e Édipo em Colono. Foi encenada pela primeira vez em 441 a.C., em Atenas. Conta a história de Antígona, uma das infelizes filhas de Édipo e Jocasta, que após a condenação do pai e a batalha entre a cidade de Tebas e o exército dos Argivos, onde seus irmãos Etéocles e Polinice mataram um ao outro lutando em lados opostos, reivindica o direito de sepultar o irmão Polinices. O duelo aconteceu porque o primogênito Polinices, que reivindicou o trono quando Édipo foi afastado do reino e acabou sendo expulso da cidade por Creonte, sentiu-se injustiçado e se revoltou contra Tebas, porém seu irmão mais novo Etéocles lutou contra ele, em defesa de Tebas, o que resultou na morte de ambos. 

Creonte, que assumiu o reinado da cidade após as sucessivas tragédias que se abateram sobre a família de Édipo, decretou que Etéocles seria sepultado com toda a honra por ter morrido lutando por Tebas, enquanto Polinices, por ter se voltado contra a cidade, não mereceria entrar no Hades (mundo dos mortos), e, portanto, proibiu terminantemente que qualquer um o sepultasse. Antígona não aceitou a ordem e decidiu sepultar o irmão mesmo sabendo do risco que correria. Pediu à irmã, Ismênia, que a ajudasse. Esta, porém, teve medo de desobedecer ao rei, aceitando a posição submissa que era imposta às mulheres. Tentou convencer Antígona de desistir do plano, o que resultou em uma briga entre elas. Antígona, sozinha, sepultou Polinices, porém tornaram a desenterrá-lo a mando do rei.

Creonte ficou furioso por ter sua ordem desobedecida, ainda mais por uma mulher, e, pior ainda, pela audácia de ela não se arrepender – pelo contrário– exaltar que as ordens do rei de nada valiam diante dos direitos concedidos pelos deuses para os mortos. Ismênia se arrependeu de não ter ajudado Antígona e tentou partilhar do castigo da irmã, porém ela não consentiu. Tentou, então, dissuadir Creonte, apelando que pensasse em seu filho. Mesmo sendo Antígona noiva de seu filho Hêmon e do próprio ter lhe aconselhado a não puni-la, avisando que o povo de Tebas dava razão a Antígona (ainda que em um primeiro momento tenha dito ao pai que o apoiava na decisão de impedir Antígona de sepultar o irmão), Creonte manteve a decisão de sepultá-la viva, o que causou uma briga entre pai e filho.

Diante disso, o adivinho Tirésias falou para o rei que sua teimosia estava irritando os deuses, e que ele sofreria o mesmo mal que causou. Contrariado, mas muito assustado, ele se apressou em sepultar Polinice e libertar Antígona, mas chegou tarde demais, Antígona havia se enforcado com os cadarços de sua roupa.  Hêmon entrou em desespero ao vê-la morta, e quando Creonte tentou fazer com que se afastasse, sacou a espada enfurecido e voltou contra si mesmo a espada, morrendo logo depois abraçado à noiva. Eurídice, ao saber da morte do filho, também se matou, pedindo que todas as desgraças recaíssem sobre Creonte. Então, Creonte teve toda a alegria de sua vida destruída, desejando nada além da morte.

PERSONAGENS 

Creonte 

Creonte é um personagem com papel central nas tragédias que compuseram a trilogia tebana de Sófocles –Édipo Rei, Édipo em Colono e Antígona. Como uma espécie de guardião das leis da cidade de Tebas, sua intervenção é fundamental para que o destino trágico aconteça, tanto de Édipo, em Édipo Rei, quanto de Antígona, filha de Édipo, na tragédia que encerra a trilogia. Em Antígona, a trama se passa principalmente entre Creonte e Antígona, herdeira da desgraça sofrida pelos pais Édipo e Jocasta e pelos irmãos Polinices e Etéocles, que duelaram até a morte quando o primogênito se voltou contra Tebas por não ter tido o direito de assumir a posição de rei após a condenação do pai. Também Ismene, irmã de Antígona, aparece na tragédia, tentando dissuadir a irmã do enfrentamento contra Creonte, que assume a condição de rei. Creonte entra em cena em um discurso aos anciãos de Tebas após o desfecho trágico da disputa entre os descendentes de Édipo. Neste discurso determina o direito à sepultura somente a Etéocles, que teria morrido lutando pela pátria, e condena Polinices a ficar insepulto, tornando-se seus restos mortais alimento de abutres e outros animais. Abre-se, aí, o conflito central da trama: Antígona não acata a decisão de Creonte e enterra o irmão. Em um diálogo tenso com Creonte, ela reivindica o direito de sepultar o familiar lançando mão do argumento de que as normas divinas prevalecem sobre as ordens dos homens.  Diante da insubordinação da sobrinha, Creonte ordena sua prisão e tem o apoio de seu filho Hémon, noivo de Antígona. No entanto, aconselhado por Corifeu após escutar críticas de Tirésias, Creonte decide libertá-la. Como já previsto na estrutura da tragédia, era tarde demais, o destino havia sido cumprido e Antígona foi encontrada morta antes que Creonte pudesse libertá-la. Hémon, acreditando que a morte fora causada por seu pai, também se suicidou. Creonte, então, padeceu do erro de ter contrariado as leis divinas.

            Nas duas tragédias, Creonte se coloca de modos diferentes. Em Édipo Rei cumpre à risca o mandato divino, tanto ao empossar Édipo soberano de Tebas, como ao destituí-lo do poder. Já em Antígona, o poder parece prejudicar o seu julgamento, já que toma medidas arbitrárias que não correspondiam à determinação divina. Como consequência, padece do destino que lhe tira o filho, morto por culpa de seu erro.


CURIOSIDADES

Etimologicamente, Antígona significa: aquela que se coloca adiante de sua família ou do meio em que vive (anti = diante de + goné = nascimento ou origem).

Antígona representa o amor, a igualdade e respeito pelo próximo. Já seu tio Creonte representa o Estado e suas leis absolutas, acima de laços familiares.


POEMA AUTORAL

Eis aqui a pessoa que tu realmente és,

Vede-te; vês se enxergais a ti ou a outrem,

Acumula-te dá sensação incomum do viés.

Fostes tu próprio que deixou enganar.



Saibas, que a verdade que teus olhos carreguem

Não serás, nem nunca foi, própria do teu lamento.

Assim como tua sombra contigo não está a andar,

A sombra de outrem se apropria do teu pensamento



Diz não querer destes

Indaga-me não precisar do comum,

Mas comum tu és, só esquecestes



É destes, quando solitária,

Que em outrora pude ver como realmente és

Hoje, receio ter escapado de ti a identidade.



Este poema seria um complemento à discussão que Antígona tem com sua irmã, no momento em que ela (colocamos o nome dá irmã na vez de "ela") diz que é errado ir contra as ordens do rei e decide não ajudar no sepultamento do irmão.

Antígona no seu ato de compaixão e busca pelos direitos do irmão mostra a luta pela busca da identidade do indivíduo que sempre se submete à sombra do rei, rejeitando seus valores e assentindo a quaisquer decisões.

(SILVA, Marcos)

Citação escolhida pelo grupo:

"Antígona – Quero teu auxílio para enterrar um morto.

Ismênia – O morto que Tebas renegou?

Antígona – O morto que se revoltou. Ajudarás a inumar o cadáver de nosso irmão?

Ismênia – Queres de fato sepultá-lo, ainda que o decreto e Creonte se estenda a toda a cidade?

"Antígona – Nenhum dos dois é mais forte do que o respeito a um costume sagrado. Policine era tão meu irmão quanto teu, embora recuses a tua ajuda. Ninguém poderá me acusar de não cumprir um piedoso dever.
Ismênia – Insana! Ousas enfrentar a proibição de Creonte?
Antígona – Ninguém tem o direito de me obrigar a tamanha impiedade!
Ismênia – Pobres de nós! Lembra, minha irmã, como nosso pai foi aniquilado pelo ódio e pelo opróbrio, quando, revelados seus próprios crimes, mutilou os olhos com as próprias mãos! E também sua mãe e esposa, duas mulheres em uma só, que acabou com a própria vida em uma corda ignomiosa! Lembra, por fim, de nossos irmãos, mortos no mesmo dia, desgraçados, dando-se mutuamente a morte! Agora só restamos nós... pensa no fim ainda mais terrível que nos espera se contrariarmos o decreto e afrontarmos o poder de nosso rei! Convém também lembrar que somos mulheres e não temos poder algum e estamos submetidas aos mais poderosos. Por isso, somos obrigadas a obedecer a suas ordens, pro mais que nos contrariem. Por mim, não tendo como resistir aos poderosos, peço perdão a nossos mortos: acatarei a ordem do rei. Seria insanidade tentar aquilo que vai muito além de nossas forças!"

OPINIÃO DO GRUPO

Antígona que da nome a obra é uma personagem nascida do fruto incestuoso de Édipo com a mãe Jocasta, de “Édipo Rei”, leitura anterior que nos facilitou no entendimento dessa. Foi muito interessante observar a coragem dela, ao querer conceder um enterro digno ao seu irmão Polinices. O empenho em cuidar do irmão, dando-lhe uma sepultura digna, e o enfrentamento que faz ao rei Creonte, parecem muito revolucionários levando em conta a rigidez das hierarquias da época e o lugar da mulher na sociedade grega. Antígona apoia-se nos deuses e é fiel a suas leis até o final, não se submetendo ao autoritarismo do rei. Mesmo maculada pelo destino que se abateu sobre seus pais e irmãos, ela não se envergonha e luta pelo direito do irmão, o que a torna símbolo da justiça. Os diálogos dessa tragédia são muito íntimos, profundos e belos, o que faz, a nosso ver, com que esta obra tenha um primor estético ao mesmo tempo em que é espelho da vida em sociedade.








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