segunda-feira, 24 de abril de 2017

Édipo Rei - Sófocles

RESUMO DA OBRA



Édipo Rei é uma tragédia grega escrita pelo dramaturgo Sófocles no século V a.C. sobre a tenebrosa sina profetizada pelo Oráculo¹ para Édipo antes de seu nascimento, de que ele mataria seu pai e se casaria com a própria mãe.
Na tradução literal, o título é Édipo Tirano, o que significa uma pessoa sem descendência aristocrática que assume o poder. O significado que geralmente damos a essa palavra é o exato oposto de Édipo, que se mostra extremamente democrático para um monarca, sempre pronto para proteger e ajudar o seu povo. Inclusive, foi assim que chegou ao trono de Tebas, salvando a cidade da monstruosa Esfinge² ao responder corretamente o seu enigma³. Além do fato do antigo rei, Laio, ter recentemente morrido e não ter herdeiros, é claro. Édipo casou-se com a antiga rainha e viúva, Jocasta. Anos depois disso é que a história se passa.
Édipo percebe com grande tristeza e preocupação que seu povo está sendo assolado por uma série de calamidades, envia então seu cunhado Creonte ao templo de Apolo para consultar o Oráculo por um conselho de como salvar a cidade, que diz que aquela terra tem uma mancha que deve ser purificada antes que se torne incurável, estando o culpado em Tebas, ao que Creonte entende se referindo a morte de Laio. Prontamente, Édipo promete expulsar ou punir com a morte o assassino, e inicia as investigações, para isso o ajuda o profeta Tirésias, mesmo relutando em ter de contar a terrível verdade: que o próprio Édipo é o assassino que procura...
Ao longo da história, ele vai lentamente percebendo como ele cometeu estas atrocidades, sem saber que cometia, e mesmo tentando evitar cometer. E assim conhece sua história por inteiro: Seus pais tentando evitar a profecia, o abandonaram para morrer ainda bebê amarrado pelos pés, daí o nome (que significa pés inchados). Mas ele foi encontrado, e entregue a um rei que o criou como filho. Já adulto, ouve ele próprio a profecia, e, tentando evitá-la vai embora de casa. Na estrada, cruza com um grupo de viajantes (Laio e seus acompanhantes), e sem saber que é o rei, muito menos seu pai, acaba matando a todos em uma briga, menos um que foge, e logo depois chega a Tebas, onde já sabemos o que acontece.

Horrorizados com a verdade, Jocasta tira a própria vida, Édipo fura os próprios olhos e se dá a punição que determinou para o assassino, ser exilado e fadado a vagar pelo mundo como um maldito.
1. Oráculo: resposta dos deuses dada por um sacerdote para as perguntas dos mortais que iam consultá-lo e o próprio local onde esse sacerdote se encontrava. O citado no texto foi o mais famoso deles, que se encontrava em Delfos.
2. Esfinge: criatura mitológica.
3. O enigma da Esfinge para Édipo foi: "Que animal tem a princípio quatro pernas, depois duas e em seguida três?", Ao que ele respondeu: "o ser humano – que engatinha quando bebê, depois anda ereto e, na velhice, caminha com a ajuda de um bastão."



CITAÇÃO ESCOLHIDA PELO GRUPO 


“Se o viajante morto era de fato Laio,
Quem é mais infeliz que eu neste momento?
Que homem poderia ser mais odiado
Pelos augustos Deuses? Estrangeiro algum,
Concidadão algum teria o direito
De receber-me em sua casa, de falar-me;
Todos deveriam repelir-me.
E o que é pior, fui eu, não foi outro qualquer,
Quem pronunciou as maldições contra mim mesmo. ”
 (A TRIOLOGIA TEBANA, ÉDIPO REI 975-980, 10º EDIÇÃO, JORGE ZAHAR 2002)


CURIOSIDADES


  O Complexo de Édipo
          A tragédia grega foi uma influência cultural importante no final do século XIX, época do psicanalista Sigmund Freud, o pai da psicanálise. Ele comparava a vida das pessoas, principalmente das que sofriam de distúrbios neuróticos, com a de Édipo:

“Todo espectador foi um dia, em germe de imaginação, um Édipo, e cada qual recua, horrorizado, frente à realização de seu sonho transposto na realidade, com toda a carga do recalcamento que separa seu estado infantil de seu estado atual” (FREUD, apud ROUDINESCO, 2016, p. 97)

         O que na história era desconhecido para o rei Édipo (sua origem e o parricídio), está na teoria de Freud como o inconsciente, um saber recalcado por forças psíquicas, fruto do desejo proibido de matar o pai e possuir sexualmente o corpo da mãe.
         Assim, formulou a teoria de estágios psicossexuais do desenvolvimento. O chamado Complexo de Édipo ocorre na fase fálica (entre 3 e 5 anos), quando o menino deseja possuir a mãe e vê o pai como um rival pelo afeto da mãe. Tem a etapa análoga para as meninas, Complexo de Electra (outra personagem de mitologia, e tragédias gregas), em que as meninas sentem desejo pelo pai e ciúmes de suas mães.
        A partir do momento em que a criança se identifica com o genitor do mesmo sexo, o complexo se resolve e sua identidade sexual é formada, completando este estágio de seu desenvolvimento.

ROUDINESCO, E. Sigmund Freud na sua época e em nosso tempo. Rio de Janeiro: Zahar, 2016.

  A Maldição dos Labdácidas
       Laio (o torto, em grego), após ter o pai assassinado por bacantes, foi exilado ainda bebê na Frígia, na corte do rei Pélops, onde cresceu. Mais tarde, quando o filho e herdeiro de Pélops, Crísipo, era adolescente, Laio foi seu preceptor, e se apaixonou pelo menino. Esta relação pedagógica/pedofílica era tolerada pelos costumes gregos desde que fosse interrompida quando o menino se tornasse adulto. O que não aconteceu. Laio raptou Crísipo (as teorias divergem sobre seu destino), e Pélops, por perder herdeiro, amaldiçoou Laio:

"Se tiveres um filho ele te matará e toda tua descendência desgraçada será!"

      Os deuses ratificaram esta maldição pois Laio transgrediu as leis da hospitalidade. E foi por isso que a esfinge foi mandada a Tebas.

PERSONAGENS 

     Édipo

     Édipo Rei não é apenas só uma tragédia de época que causaria choque na plateia pelas questões abordadas; como parricídio por ter matado o próprio pai e incesto por desposar a mãe. São crimes que clamam por punição, mas não nos deixam – nós, espectadores – com um sentimento de repúdio pelos atos, pelo contrário, fazem com que ficássemos com uma imagem diferente desses graves acontecimentos com o personagem principal, fazem com que, para uns, ele seja um herói do começo ao fim e, para outros, deixa um sentimento de pena para com Édipo. Herói do começo ao fim por saber que ele acabou com a peste (a Esfinge) que aterrorizava Tebas – cidade natal e, também, na qual se passa todo o enredo da obra – e, quando por outro motivo, que por início ele não o sabia, outra peste chegava a cidade e ele continuava a proteger os cidadãos, dizendo que iria salvá-los desse novo momento pelo qual eles passavam, cumprindo o papel de rei.  Mas, não só isso, quando descobriu tudo que o destino o reservara, continuou com a atitude de um digno herói; age bem como indivíduo, se punindo pelos crimes que para a sociedade era errado (parricídio e incesto), como rei, pois ele próprio decreta a pena que seria imposta ao assassino de Laio e deve cumprir sua palavra e como elemento social, porque sendo ele o motivo das desgraças de Tebas, não pode continuar vitimando a cidade depois de saber de sua culpa. Pena, pois ele, desde o começo, não tinha ideia que seu cruel destino que Apolo um dia o contou, e o qual ele tentou desviar fugindo dos pais adotivos que ele acreditava que eram os de sangue, o seguiria na sua nova jornada contra Tebas, assim destruindo sua vida pelo desconhecimento dela.

      Como dito, a obra não é apenas uma tragédia de época, pois nesse enredo de Sófocles, acontecido em um único lugar (Tebas) e apenas um dia, transcende o conceito de tragédia, trazendo fatos que, lendo a trilogia de Sófocles (Édipo Rei; Antígona; Édipo em Colono) fica mais fácil de entender. São personagens limitados que carregam um significado que pode ser traduzido em atitudes e personalidades que temos hoje em dia. Sinceramente, é uma responsabilidade muito grande fazer comparações de momentos e pessoas reais com essa trilogia e com Édipo Rei, assim deixando-nos – nós, que fazemos essa análise – com receio de tentar este feito. No entanto, arriscamo-nos em dizer, já que aqui se trata de uma análise pessoal sobre o personagem, que Édipo Rei é uma mensagem – que até o coro menciona no fim do enredo da obra, quando nosso personagem descobre a desgraça que acontecera –, mostrando que a felicidade não é plena, pura, muito menos algo constante como desejamos. A felicidade, que Édipo tivera quando derrotou a Esfinge, teve uma boa vida com sua mulher (e mãe) e foi bem-sucedido como Rei, e depois enfrentou a tristeza – profunda e trágica, mas com obviedade por se tratar de uma tragédia -, não dura. Ela é um presente que temos em momentos da vida, mas não o auge dela, pois se não sentirmos a dor da tristeza não saberíamos dar valor a ela, a felicidade. Então, como ainda não lemos Édipo em Colono, acreditamos que este exílio de Édipo fara com que ele tenha um bom momento para refletir e entender seu destino, destino esse que dede o começo de sua vida a vontade do nosso personagem era de se encontrar, achar seu lugar e sua identidade, objetivo que ele alcançara, mas infelizmente não do melhor jeito.

Jocasta 

           Jocasta é esposa de Édipo e irmã de Creonte, em um primeiro momento se mostra ser uma mulher sensata que tenta manter a ordem perante os desentendimentos entre eles. Preocupa-se muito com Édipo e seus tormentos, não gosta de vê-lo perturbado,  busca protegê-lo sem deixar de interceder pelo irmão.

 Já mais ao fim da leitura, descobre-se a terrível origem de seu até então marido, na verdade Jocasta casou-se com o próprio filho, fruto de seu casamento com o falecido Laio. A tensão em torno desse descobrimento a leva a tomar atitudes drásticas, perdendo sua sensatez e sanidade iniciais, enforca-se em seu quarto.

Creonte

           Creonte é um personagem com papel central nas tragédias que compuseram a trilogia tebana de Sófocles –Édipo Rei, Édipo em Colono e Antígona. Como uma espécie de guardião das leis da cidade de Tebas, sua intervenção é fundamental para que o destino trágico aconteça, tanto de Édipo, em Édipo Rei, quanto de Antígona, filha de Édipo, na tragédia que encerra a trilogia.
            A tragédia Édipo Rei inicia com um diálogo entre Édipo e o Sacerdote, porta voz do povo de Tebas, que vai ao palácio em busca de uma palavra, de uma ação de Édipo para estancar o sofrimento do povo, vítima de um terrível flagelo. Édipo indica que fora dada a Creonte a missão de indagar o deus Apolo sobre a causa da situação vivida na cidade, porém o cunhado demorava a retornar. A confiança de Édipo em Creonte, irmão de Jocasta, sua esposa, e filho de Meneceu, tivera início quando dele recebeu a responsabilidade de reinar sobre Tebas ao desvendar o enigma da Esfinge que livrou o povo da dizimação. No entanto, quando Creonte retorna com a notícia de que o assassino de Laio foi o causador do mal que assolou a cidade e ao ter a revelação do adivinho Tirésias de que teria sido ele, Édipo, o autor do crime, passa a se sentir vítima de um complô. A segunda entrada do personagem Creonte na tragédia é um diálogo com Édipo em que se defende das acusações do então rei de Tebas. Mesmo tendo sido alvo de mal julgamento, Creonte leva adiante a missão que lhe foi dada e destitui Édipo do trono. A última cena em que os dois personagens interagem é a despedida das filhas Antígona e Ismene, autorizada por Cronte, e a condução de Édipo para o interior do palácio a fim de que fosse punido.

Tirésias 

        Tirésias fora um sacerdote do qual Édipo convocou para auxiliar na descoberta de quem havia matado Laio. Tirésias era cego e mestre em adivinhações, ele é quem revela há Édipo a sua origem e a maldição que discorre sobre ele.

Corifeu

        Corifeu era o chefe do coro no teatro grego, ele enunciava partes isoladas do texto e podia dialogar com os personagens, servindo de elo de comunicação entre os personagens e o coro (que era formado para representar o povo), e se tornando fundamental para o desenrolar da trama, pois aconselha, tenta trazer de volta à razão, ou concorda com os personagens, expressando a opinião geral do povo. E, em partes, pode até direcionar o rumo da história.
                                                                                          (Em: Édipo Rei, Antígone, As Bacantes)


OPINIÃO DO GRUPO

É uma tragédia típica e muito interessante pois tem muitos simbolismos que a tornam atemporal, isto é, podemos pensar sobre o nosso tempo a partir dela, ainda que a sociedade tenha mudado tanto. Ficamos instigados a ler até o final, apesar de se arrastar no melodrama antes de Édipo se dar conta de quem era, quando para nós estava óbvio e provavelmente estava óbvio também para a plateia já naquele tempo, uma vez que o mito de Édipo já era bem conhecido por todos. Além disso a forma como foi redigida é muito bonita, poética. Acreditamos que a cada leitura possamos tirar novos sentidos de sua narrativa. 

Odisséia - Homero

Resumo Odisséia conta o trajeto de Odisseu (ou Ulisses), rei de Ítaca, saindo da guerra de tróia - escrita em outra obra de Homero, Ilíad...