domingo, 2 de julho de 2017

LANCELOT, O CAVALEIRO DA CHARRETE - CHRÉTIEN DE TROYES

RESUMO DA OBRA



Chrétien de Troyes escreveu esta obra em meados de 1160, a pedido de Marie de Champagne, que lhe dava apoio e proteção e era bisneta do poeta cortês Guilherme de Poitiers, o que talvez se relacione a seu interesse pelas Artes. Este romance de cavalaria, que faz parte do ciclo bretão, não foge à “fórmula” que enaltece o amor cortês: para defender uma dama vulnerável, o cavaleiro empreende uma batalha. A dama, aqui, é Guinévère, esposa do rei Artur, e a obra é parte dos “Romances da Távola Redonda”.
A história inicia na festa da Ascensão, com a corte reunida enquanto o senescal Kai, tendo dirigido o banquete, estava junto aos seus companheiros. O rei Artur é interpelado por um cavaleiro que invade o salão e que declara ter sob seu domínio parte das terras e dos povos da realeza, nada podendo o rei fazer diante disso. É desafiado a deixar a rainha ir até a floresta acompanhada de um cavaleiro de sua confiança e, no tempo oportuno, poderia tentar tomá-la de volta. Kai, ao saber o que acontecia no castelo, se aproximou do rei Artur e ameaçou partir, porém, diante das súplicas da rainha Guinévère, disse que permaneceria na corte se fosse ele o cavaleiro a acompanhar a rainha até a floresta. O rei aceitou e Kai partiu com a rainha, sendo acompanhado à distância por ele e seu sobrinho, Gawain. No entanto, durante o caminho, o cavalo de Kai foi visto sozinho e com marcas de sangue. Vindo um pouco atrás do rei, Gawain encontrou um cavaleiro armado, cujo cavalo havia sido morto. Este cavaleiro, Lancelot, pediu um cavalo e ao recebê-lo partiu em galope, sendo seguido por Gawain. Lancelot foi encontrado sem o cavalo, perto de uma charrete. Naquela época, as charretes eram usadas para carregar escravos e quem entrasse em uma delas estava destinado à má sorte, à perda da honra. Após um momento de hesitação, Lancelot subiu na charrete e, assim, começou a sua busca à rainha raptada.
A narrativa conta as aventuras de Lancelot e Gawain até encontrar a rainha, que estava sob poder de Meleagant, filho do rei Bandemagus. Ao longo da jornada, Lancelot foi se mostrando cada vez mais valente e fiel à rainha e ao Amor. Sua valentia, que teve como ponto forte a entrada no castelo de Bandemagus, em que atravessou uma ponte feita de espadas, provocou a admiração do rei, que tentou dissuadir o filho da disputa pela rainha, temendo seu fracasso. O príncipe, no entanto, era bastante orgulhoso e não desistiu. Durante a primeira batalha entre ele e o cavaleiro, estando Meleagant bastante atingido, o rei suplicou à rainha Guinévère que intervisse para que a luta fosse suspensa, o que ela fez. Meleagant não aceitou a derrota e só concordou em entregar a rainha a Lancelot com a condição de que um ano depois eles lutassem novamente, o que ficou combinado. Lancelot encheu-se de expectativa de encontrar a rainha, porém, em um primeiro momento foi rechaçado por ter andado na charrete, como os escravos. Kai, que também estava no castelo, foi quem lhe ajudou a compreender o pensamento de Guinévère. Por fim, após sequestro de Lancelot e a falsa notícia de que havia sido morto, ao retornar ao castelo, um intenso jogo de sedução se deu entre a rainha e o cavaleiro. O convite para se aproximar do quarto da rainha durante a noite resultou em um inusitado encontro amoroso e em um mal entendido envolvendo o protetor fiel Kai, que resultou em nova batalha entre Lancelot e Meleagant. Durante o duelo, o rei interveio novamente em defesa de seu filho e, por solicitação da rainha, Lancelot desistiu da luta. Saiu do castelo com alguns companheiros em busca de Gawain, porém foi enganado por um anão que encontrou no caminho, sendo preso por um senescal de Meleagant enquanto os outros encontravam Gawain e o levavam para junto da rainha. A rainha Guinévère, Gawain e Kai retornaram ao reino de Artur.
Um torneio foi organizado no reino de Artur para que as moças da nobreza conhecessem valentes cavaleiros. A notícia chegou até o reinado de Bandemagus, deixando Lancelot extremamente triste. Diante da apatia do cavaleiro, que já não se alimentava mais, a senhora que era esposa de seu algoz o libertou com a condição de que ele retornasse para que Meleagant não punisse sua família. Lancelot foi até o torneio disfarçado, sendo reconhecido apenas pela rainha. Após sua vitória retornou rapidamente à casa do solar, onde voltou à condição de prisioneiro. Como punição, Meleagant ordenou que o prendessem em uma torre.
Assim terminou a história de Chrétien de Troyes, porém o clérigo Geoffroy de Lagny escreveu sua continuação, até a batalha final em que Lancelot duelou e derrotou de forma violenta seu inimigo. O desfecho da narrativa acontece de forma muito rápida, divergindo bastante do andamento dado por Troyes. De qualquer forma, esta obra representa bem os romances de cavalaria e as histórias da corte do rei Artur, que permaneceram vivos no imaginário e na literatura ocidental.

CITAÇÃO ESCOLHIDA

¨ - Não sei qual me odeia mais: a vida que me deseja ou a morte que me vem matar. Assim ambas me matam. Mas não é justo obrigar-me a viver a contragosto. Sim, deveria ter me matado assim que a rainha minha senhora me mostrou semblante de ódio, e não sem razão o fez. Mas houve justa causa, embora eu não saiba qual. Se a pudesse conhecer antes que minh'alma estivesse perante Deus, já a teria expiado tão completamente quanto lhe aprouvesse, desde que compaixão de mim ela tivesse. Esse pecado, qual será? Creio que ela soube que subi na charrete. Não, não sei qual recriminação recebi além desta que me traiu. Se tal é a razão de seu ódio, por que, meu Deus, aniquilar-me assim por esse crime? Quem por isso me exprobou jamais conheceu o amor. Nada que vem de amor e diz amor pode ser censurado. Tudo o que homem faz por sua amiga é amor e cortesia. E não fiz isso por minha amiga? Ai de mim, não sei como dizer! Mas devo dizer amiga, ou não? Não ouso lhe dar tal nome. Porém creio saber o bastante sobre o amor para pensar que, se me amasse, ela não me consideraria mais vil por isso. Deveria me proclamar verdadeiro amigo quando, por ela, tudo o que amor pede me pareceu honra, mesmo subir na charrete. Deveria lançar isso à conta do amor. E a prova verdadeira, pois assim amor põe à prova os seus e assim os conhece. Mas minha senhora não estimou meu serviço. Bem mostrou isso e bem o vi em seu rosto. Mas também é verdade que fiz algo que meus amigos reprovam e dizem que foi para minha desonra. A doce vida tornou-se amarga, como acontece amiúde aos que tudo ignoram do amor¨


 CURIOSIDADES

A charrete

          Para os cavaleiros era uma questão de falta de honra não estar em seu cavalo ou cair dele, desonra maior ainda era andar em uma charrete, que era destinada aos criminosos, mortos, doentes, mulheres e crianças.

Cortesia

         Apesar de parecer simplesmente um romance que retrata uma sociedade feudal, seu enfoque é pedagógico. Sendo destinado a um público específico, as situações exemplares presentes deveriam servir como norma de conduta, pois pode-se imaginar que a situação das mulheres na época era ainda pior.


Opinião do grupo

Achamos a obra muito interessante, pois nela conseguimos perceber as relações de normas e conduta da sociedade feudal e também trabalhar nossa imaginação através das aventuras, típicas dos romances de cavalaria.
       

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